Resumo:
A resiliência é uma competência socioemocional que possibilita a flexibilidade a
situações adversas, sendo fortemente associada a um maior repertório de respostas
psicomotoras adaptativas diante dos estressores. É a capacidade de enfrentar,
superar e transformar-se diante de experiências avaliadas como negativas. A
autoeficácia constitui na crença nas capacidades pessoais. O sentimento de
competência pessoal coaduna-se com a autoestima; as emoções positivas e a
resiliência. Há uma correlação proporcional entre a crença nas habilidades e o
comportamento eivado pelas marcas dos bons resultados. A autoeficácia e a
resiliência contribuem na melhor avaliação das circunstâncias adversas, auxiliando o
sujeito no enfretamento da situação e reduzindo os seus efeitos negativos. Já o
estresse percebido está condicionado à avaliação dos estímulos ambientais e suas
demandas com os recursos pessoais para enfrentá-los. O fato pode ser enfrentado
por um indivíduo como um desafio, já por outro como uma ameaça. O estresse
percebido conjuga a emoção, a cognição e o comportamento. Sujeitos com baixa
crença em si mesmo, possivelmente, o estresse percebido terá níveis mais altos dos
que possuem autoeficácia, resiliência e boas estratégias de enfretamento. A
profissão militar é uma atividade que incorre na tomada de decisão rápida, exaustão
física e mental e risco de morte, condições propícias ao estresse. Contudo estar
‗estressado‘ é um estado desejável ao militar. O estresse fisiológico permite à ação
rápida, a hiperprosexia, a agressividade, energia para as células, anestesia e
analgesia do corpo. Sem embargo, aliado à condição de excitabilidade constante no
exercício da profissão, é imprescindível o desenvolvimento de fatores protetivos que
limitará a tensão corporal, garantindo a sua saúde. As respostas de estresse mal
adaptadas, transitórias ou permanentes, incluem má conduta ou transtornos
diversos como a depressão, síndrome do pânico e transtornos relacionados à
ansiedade. A presente pesquisa procurou compreender a associação da resiliência e
autoeficácia com o estresse percebido nos militares em formação na Academia
Militar das Agulhas Negras- AMAN. A fim de cumprir o intento foram necessários
instrumentos avaliativos adaptados ao contexto militar. Para avaliação da Resiliência
foi aplicada a escala CD RISC BR a 1.384 militares dos quatro anos da AMAN, após
a aplicação, os dados foram analisados pelos Softwares AMOS 19 (Analysis of
Moment Structures) e SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) com vistas
a ajuizar o modelo mais adequado ao contexto da AMAN. Os índices estatísticos (X2
/gl; GFI, AGFI, RMR, CFI, TLI e RMSEA) obtidos ficaram dentro dos valores
aceitáveis para instrumentos avaliativos humanos. A escala adaptada ao Brasil
possui 25 itens e 4 fatores (Adaptabilidade; Tenacidade; Amparo Social e Intuição),
a versão adaptada a AMAN ficou com 18 itens e dois fatores (Adaptabilidade e
Tenacidade). A escala de Autoeficácia Geral Percebida foi aplicada a 245 cadetes
do primeiro e segundo ano de formação, o instrumento escolhido foi uma escala
inglesa, unifatorial, com 10 itens, adaptada ao Brasil com amostra de estudantes
universitários. Os dados da aplicação na AMAN foram correlacionados com os
demais instrumentos sem alteração em seus itens. Para a mensuração do estresse
percebido foi construída a escala de estresse percebido a partir de grupos focais
com cadetes representando os quatro anos de formação, os quais discutiram os
aspectos mais estressantes do curso formação de oficiais. As respostas dos
participantes do grupo compuseram as 36 assertivas da escala. A Análise Fatorial
Exploratória e a Modelagem de Equação Estrutural, realizadas com o auxílio do
programa de software AMOS 19, resultaram em três possíveis modelos de escala:
escala unifatorial reduzida com 10 itens; escala unifatorial estendida com 22 itens e
escala multifatorial com três dimensões (distância da família; enfrentamento de
desafios e falta de tempo livre) com 17 itens. Para fins de validação, a escala foi
aplicada a 1.306 cadetes dos quatros anos de formação. A testagem estatística
chegou a valores aceitáveis para sua validação para o contexto da AMAN, e os
resultados mostraram forte correlação entre a escala de estresse com os demais
instrumentos aplicados nesta investigação. Conclui-se que os instrumentos
avaliativos a pouco mencionados foram validados e adaptados para futuros
diagnósticos no contexto de formação bélica do Exército Brasileiro e, os dados
mostraram que os consulentes com médias altas nos instrumentos de resiliência e
autoeficácia obtiveram baixas médias na escala de estresse percebido. A
investigação observou a importância da resiliência e autoeficácia como competência
e sentimento, respectivamente, promotores de respostas de estresse adaptativas as
atividades castrenses.
Abstract:
Resilience is a socioemotional competence that allows flexibility to adverse
situations, being strongly associated with a greater repertoire of adaptive
psychomotor responses to stressors. It is the capacity to face, overcome and
transform in the face of experiences evaluated as negative. Self-efficacy is in belief in
personal capacities. The feeling of personal competence is in line with self-esteem;
positive emotions and resilience. There is a proportional correlation between belief in
abilities and behavior that is influenced by the marks of good results. Self-efficacy
and resilience contribute to the best evaluation of adverse circumstances, helping the
subject to deal with the situation and reducing its negative effects. Already the
perceived stress is conditioned to the evaluation of the environmental stimuli and
their demands with the personal resources to face them. The fact may be faced by
one individual as a challenge, and by another as a threat. Perceived stress combines
emotion, cognition, and behavior. Subjects with low self-belief possibly perceived
stress will have higher levels of self-efficacy, resilience, and good coping strategies.
The military profession is an activity that incurs rapid decision making, physical and
mental exhaustion and risk of death, conditions conducive to stress. However being
'stressed' is a state desirable to the military. Physiological stress allows rapid action,
hyperprosexia, aggressiveness, energy for the cells, anesthesia and analgesia of the
body. However, coupled with the condition of constant excitability in the practice of
the profession, it is essential to develop protective factors that will limit the body
tension, ensuring their health. Maladaptive, transient, or permanent stress responses
include misconduct or various disorders such as depression, panic syndrome, and
anxiety-related disorders. The present research sought to understand the association
of resilience and self-efficacy with the stress perceived in the military in formation at
Academia Militar das Agulhas Negras-AMAN. In order to fulfill the intent, evaluation
instruments adapted to the military context were necessary. For the evaluation of
Resilience, the CD RISC BR scale was applied to 1.384 military personnel from the
four years of AMAN, after the application, the data were analyzed by AMOS 19
(Analysis of Moment Structures) and SPSS (Statistical Package for the Social
Sciences) to judge the most appropriate model in the context of AMAN. The
statistical indices (X2 / gl, GFI, AGFI, RMR, IFC, TLI and RMSEA) obtained were
within acceptable values for human evaluation instruments. The scale adapted to
Brazil has 25 items and 4 factors (Adaptability, Tenacity, Social Protection and
Intuition), the version adapted to AMAN was 18 items and two factors (Adaptability
and Tenacity). The Perceived General Self-Efficacy scale was applied to 245 cadets
of the first and second year of training, the instrument chosen was an English, 10-
item scale, adapted to Brazil with a sample of university students. The application
data in AMAN were correlated with the other instruments without change in their
items. In order to measure perceived stress, the perceived stress scale was
constructed from focal groups with cadets representing the four years of training,
which discussed the most stressful aspects of the officer training course. The
responses of the participants of the group comprised the 36 assertions of the scale.
Exploratory Factorial Analysis and Structural Equation Modeling, carried out with the
help of the software program AMOS 19, resulted in three possible scale models: a
reduced one-factor scale with 10 items; extended single-factor scale with 22 items
and multifactorial scale with three dimensions (family distance, coping with
challenges and lack of free time) with 17 items. For validation purposes, the scale
was applied to 1,306 cadets of the four years of training. Statistical testing reached
acceptable values for validation in the AMAN context, and the results showed a
strong correlation between the stress scale and the other instruments applied in this
investigation. It was concluded that the aforementioned evaluative instruments were
validated and adapted for future diagnoses in the context of the Brazilian Army's
military training, and the data showed that the applicants with high means in the
instruments of resilience and self-efficacy obtained low means in the perceived stress
scale. The research noted the importance of resilience and self-efficacy as
competence and feeling, respectively, promoters of adaptive stress responses to
military activities.